Li e revirei suas páginas amareladas.
Era um livro de poesias.
Relendo, percebi que cada verso cantava a minha vida,
meus dias e anos, que passados já não são meus.
Capítulos inteiros sobre situações e sentimentos,
que, embora abandonados pelo corpo,
ainda estão apreendidos de alguma forma em mim.
Talvez grafados na alma, se ela realmente existir.
Em um movimento lento e repleto de tortura,
as letras se soltaram do papel,
misturando-se às lágrimas que meus olhos derramavam.
Vi diante de mim um pequeno lago de tinta salgada de saudade.
Não uma saudade das coisas vividas,
mas uma saudade do que não aconteceu.
Dos amores perdidos,
dos amigos distantes
De repente, todo aquele passado
Parecia mais importante agora
do que quando foi experimentado.
O sentir da tristeza foi inevitável
ao perceber que meu pesar era
o de não ter sentido no momento certo.
De não ter percebido no momento presente
Um presente, que agora passado, me escapou das mãos
Desejei compor novos arranjos
Criar novos versos
Desta vez com a certeza da singularidade
de cada momento,
de cada pessoa que cruza ou fica em minha trajetória
Olhando o passado, percebi a leveza do presente
O sentir poético do Agora
O sentimento doce, alegre ou triste
que cada momento guarda
Escreverei novas poesias
E no fim terei um livro de saudades
verdadeiramente póstumas.
Mas só no fim. Quando ele vier.