Se é resultado do trânsito de Marte no meu mapa astral devido à proximidade do meu aniversário, não sei. Mas entrei nos últimos dias em uma fase pouco habitual em minha vida: a romântica. Nesta linha passei a pensar sobre o amor na minha vida, tema difícil de relatar a não ser por versos. Materializar sentimentos no papel é mesmo a arte dos poetas, que tantas vezes de coração massacrado celebram a dor e derramam novos poemas de amor. Talvez meu estado à flor da pele seja também resultado da beleza que guarda o mês que nasci. Março é um mês lindo demais. Em um 8 de março de 1914, Fernando Pessoa deu vida a seus heterônimos: Alberto Caeeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. De pé por horas seguidas e escreveu mais de trinta poemas, em um êxtase poético que agora me inspira. Março é também data de recordar e suspirar com lembranças doces e apimentadas de minha vida. Ofereço, assim, versos do querido Ricardo Reis, heterônimo preferido por mim. Poeta de inclinação pagã adepto do carpe diem que sabe aproveitar os momentos da vida com equilíbrio e pureza. "Prazer, mas devagar, Lídia."
Quando, Lídia, vier o nosso Outono
Com o Inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Primavera, que é de outrem,
Nem para o Estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa -
O amarelo actual que as folhas vivem
E as torna diferentes.
(Ricardo Reis, 13/06/1930)
E como não poderia deixar de ser:
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio
Pagã triste e com flores no regaço.
Ricardo Reis (12/6/1914)
Mas,
As rosas amo dos jardins de Adónis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em nascem,
Esse dia morrem.
A luz para elas é eterna porque
Nascem nascido já o Sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há nite antes e após
O pouco que duramos.
(11/07/1914)
Tem mais a ser dito, mais a ser vivido, mais...
Um comentário:
Menos é sempre mais.
E tenho dito.
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