quinta-feira, agosto 10, 2006

A (viagem) gota d'água e o filme de consolo

Só precisava mesmo de uma gota d'água para desaguar em prantos. Tive um dia repleto de lágrimas. Lágrimas de um choro há muito contido, que começou de manhã após a viagem da pequena Maria e se completou no cinema, à noite, enquanto assistia ao filme Zuzu Angel.

Há algumas semanas tenho pensado sobre como tem muita coisa fora do lugar na minha vida. Mas na tentativa de adiar algumas reflexões aparentemente necessárias, tentei reprimir tais pensamentos e os rebatia com o argumento: "e quem determina os lugares certos para as coisas". Mas hoje não deu, tem muita coisa fora do lugar mesmo, ainda que não saiba ao certo quais são os lugares adequados.

Depois de uma noite péssima, acordei com a difícil missão de me despedir da Maria, que se preparava para sua primeira viagem sem mim. Ela ainda dormia, quando comecei a tomar as providências finais para a partida e organizava a pequena mala colorida. Tudo pronto, me despedi com um nó imenso na garganta. Disse "eu te amo, vou sentir saudade. Você me liga?"

E ela respondeu "também te amo. Mas só vou ligar se eu sentir saudade, tá?" Foi tão espontânea, que respondi decepcionada: "tá". Após um longo abraço seguiram viagem. Maria (toda feliz em sua cadeirinha rosa de auto), meu padrasto e minha mãe. Subi. Dormi um pouco mais, até a hora de me aprontar para ir trabalhar.

Antes, pensei. Pensei sobre mim, as pessoas e situações que me cercam. - Puxa, como deixei a vida me levar. Como tudo parece fora do lugar. Dividi a vida por aspectos para analisar melhor, mas o resultado foi pior. Decepção. Se considerasse uma pontuação de zero a 10, teria o seguinte quadro:

Vida profissional: 3 Sentimental: 0,5 Financeira: 0,8 Familiar: 5

Números negativos. Senti vontade de chorar. Dormi.

À tarde, no jornal, lembrei da Maria. Ainda não havia me ligado, talvez na empolgação da viagem não tivesse ainda tempo para sentir saudades. Comecei a trabalhar. Outros problemas relativos aos aspectos acima notificados. Não pude conter o choro. Algumas pessoas perceberam. Disse que chorava de saudade da Maria. E de algum modo era também.

É estranho. Em dias como hoje me sento alheia ao mundo e às pessoas. É como se estivesse fechada para balanço. As pessoas falam comigo, mas a sensação é de ouvir ruídos. Caminhavam e eu eu só percebia vultos. Concentração mesmo, só na hora de apurar os fatos e escrever. Depois flutuava, como quem observa para ver os passos errados e dizer "volte, não é por aí".

E como se isso fosse possível, tive vontade de ficar só. De correr, de fugir. Não o fiz, claro. Esperei. Mas ao terminar minha matéria pensei em ir ao cinema. Era tarde, 22 horas, fui. Sozinha. (É raro sentir vontade de ficar sozinha, mas ontem precisava) Em minutos estava no shopping, cheguei nos trailers e tive dificuldades para encontrar um bom lugar. Achei, mas quase tropeço em um casal de adolescentes, que literalmente se pegavam dentro do cinema. Senti raiva, é claro. Por que não procuraram um motel, porra? Mas a presença pegajosa e incômoda do jovem casal ao lado tornou-se insignificante logo às primeiras cenas do filme.

Assistir a história daquela mãe, que ao perder o filho reorienta toda a vida para alcançar justiça e conviver com o sofrimento, me fez perceber (mais uma vez) que aos 23 anos de idade já tenho o que na vida me fará mais feliz: a Maria. Claro, que sofro diante de minhas decepções e anseios com as outras áreas da vida. Mas percebo que quando sofro porque a responsabilidade de ser mãe limitou meus passos, o faço sem causa. Porque se não tivesse hoje a Maria, acabaria tudo que tem sentido.


Para mim, Zuzu é a prova de que para uma mãe felicidade está no sucesso dos filhos. Não há maior fã e pessoa detentora de maior amor. Não vou contar a história, até porque recomendo que todos assistam, mas ser capaz de mudar tudo por uma pessoa é incrível. E esse belo sentimento, um tanto egoísta (de achar que só seu filho é tudo) tenho em mim. Chorei ainda mais de saudade da Maria, que não me ligou.

Não deve ter tido tempo de sentir saudade. Mas eu liguei (quatro vezes). Ela só quis falar comigo uma. É assim, ser mãe é ter o mais belo dos sentimentos. Amar sem esperar mesmo NADA em reconhecimento.

Ao final do filme e após ter chorado o dia todo, percebi que os outros problemas me incomodam sim. E incomodarão enquanto não resolvê-los, um a um. Mas o alento de saber o que é amar de verdade eu tenho. A Maria me deu.

Um comentário:

Anônimo disse...

vem para cá amanhã! vale a pena!