segunda-feira, maio 31, 2010

Olhos e olhares perdidos

To sentindo falta de mim
Olho na cidade e não me vejo
Olho no espelho e não me encontro
Olhos estranhos me contemplam
Olhos distantes me observam
E eu desvio os olhos,
Fecho os olhos
E é neste momento que me vejo
Me vejo distante
Me vejo além
Me vejo inquieta
Me vejo triste
Me vejo alegre
Me vejo longe...
Longe desta imagem que agora contemplo no espelho.
Miro meu olhar que agora chora...
Continuo a me procurar

Lillian
(31.05.2010)

sábado, maio 29, 2010

"Meu cravo pessoal de defunto"

As árvores dos bosques, muros e paredes. Superfícies escolhidas pelos apaixonados para grafar nomes e declarar amores.

Por aí já vi coisas como:

João e Maria...
Ricardão, meu amorzão...
Rodriguinho, meu amorzinho...
Victor, sem você não vivo...
Rômulo e Tarcísio...
Juvêncio e Clementina...

E tantas outras declarações de amor que me lembram os versos de Carlos Drummond de Andrade:

"Amor-mais-que-perfeito. Minha urze. Meu cravo- pessoal-de-defunto. Minha corola sem cor e nome no chão de minha morte. "

Morte essa iminente a quase todos esses amores solidificados em superfícies tão efêmeras quanto algumas dessas histórias de amor. Estaria a Maria ainda apaixonada pelo João? O Ricardão seria ainda o amorzão da anônima que feriu a inocente árvore para bravar sua paixão?

Superfícies. Superficiais. Eternos e efêmeros...

Eu, eu prefiro não usar as superfícies. Até devo ter feito isso na adolescência em algum caderninho, mas confesso ter esquecido. Prefiro não registar versos baseados em um pseudo ideal de felicidade e frases feitas.

Acredito em um outro amor, um amor pouco romântico, menos melado e menos regado a ápices de alegria e picos de tristeza e sofrimento...

Como lembra Moska ...

"A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta? O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
O amor será sempre o desconhecido(...)"

Desconhecido e fluido. Muito além de muros, paredes e árvores! Muito além das fórmulas e de meladas declarações. Um amor de outro tipo...


terça-feira, maio 25, 2010

Antítese em metalinguagem

Em outubro próximo este blog faz 5 anos. Há alguns dias pensei em eliminá-lo, deixar para trás todo esse lirismo que o alimenta, mas agora percebo que isso é impossível. Impossível porque estou em cada linha aqui escrita, estou nesse layout já antigo que não consigo mudar e que traz um pouco do que preservo - o antigo, o que permanece diante da efemeridade da vida, o vintage.

Lembro que a decisão de criar este blog veio de um surto (quase psicótico), de uma revolta que já pulsava inquietante na minha alma desde muito antes de 2005. Assim, num impulso, como muitas coisas que faço na vida, passei a escrever o que sentia, o que me dava raiva e o que provocava alegrias. Me descobri ainda mais apaixonada pela escrita e comecei um ritual de só escrever aqui quando tivesse a alma invadida de sentimentos vibrantes. Seja de que ordem fosse, mas que fosse pulsante, que gritasse em mim. E assim, o fiz.

Por muito tempo sem divulgar, falar ou mostrar o que aqui escrevia. Ainda hoje não divulgo tanto, o que fez do blog um companheiro, quase um ouvinte de minhas quimeras. De tal maneira que agora, relendo textos antigos, posso ver mudanças, maturidade talvez, sentimentos antigos, alguns deixados para trás, outros transformados, mas nenhum esquecido.

Esta trajetória dá ainda mais sentido ao título do blog, aos versos de Fernando Pessoa - Flores que colho, ou deixo...

Vivo hoje um presente, sem esquecer o que aqui está registrado, preservando o usado, o velho, o antigo. Esse blog já está minha história, tanto que inicio a partir dele, um novo projeto, que espero em breve divulgar. Vamos ao futuro, sem perder de vista quem fomos no passado e sem acreditar que um dia saberemos quem de fato somos, tudo é trajetória, tudo é estrada na vida. Uma antítese sem fim e que torna interessante a vida.