segunda-feira, agosto 30, 2010

Poesias envelhecidas

Encontrei hoje um livro antigo.
Li e revirei suas páginas amareladas.
Era um livro de poesias.
Relendo, percebi que cada verso cantava a minha vida,
meus dias e anos, que passados já não são meus.
Capítulos inteiros sobre situações e sentimentos,
que, embora abandonados pelo corpo,
ainda estão apreendidos de alguma forma em mim.
Talvez grafados na alma, se ela realmente existir.

Em um movimento lento e repleto de tortura,
as letras se soltaram do papel,
misturando-se às lágrimas que meus olhos derramavam.
Vi diante de mim um pequeno lago de tinta salgada de saudade.
Não uma saudade das coisas vividas,
mas uma saudade do que não aconteceu.
Dos amores perdidos,
dos amigos distantes

De repente, todo aquele passado
Parecia mais importante agora
do que quando foi experimentado.
O sentir da tristeza foi inevitável
ao perceber que meu pesar era
o de não ter sentido no momento certo.
De não ter percebido no momento presente
Um presente, que agora passado, me escapou das mãos

Desejei compor novos arranjos
Criar novos versos
Desta vez com a certeza da singularidade
de cada momento,
de cada pessoa que cruza ou fica em minha trajetória
Olhando o passado, percebi a leveza do presente
O sentir poético do Agora
O sentimento doce, alegre ou triste
que cada momento guarda
Escreverei novas poesias
E no fim terei um livro de saudades
verdadeiramente póstumas.
Mas só no fim. Quando ele vier.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Sobre metáforas e Fernando Pessoa (apropriações)


Pedras soltas no leito do rio

Pedras que seguem sem destino

Rio que corre para o mar

Águas que driblam obstáculos

Para enfim desaguar no mar

O mar fim do rio

O mar ponto final

É como o leito da morte

No mar o rio encontra o fim

A beleza do mar guarda o vale da morte

Á revelia dos obstáculos,

O rio vai sempre dar no mar


Passamos!


Sábio poeta, Fernando, já dizia

Mais vale saber passar sossegadamente

Você à revelia

Traz tormenta à calmaria

Das águas do leito, calmo leito, do meu rio

Atira pedras, agita,

Leva a calma e suavemente

Confunde as pedras, o rio, as águas

Com a fúria de uma tempestade


Cesse!

Passamos!

Suave siga o curso até encontro com o mar.