sexta-feira, dezembro 03, 2010

Tremores

Estou trêmula
Um tremor que não é de raiva
Um termor que não é de amor
Um tremor que não é de ódio
Um tremor que não é feroz
Um tremor que já me tomou
E agora controla minhas mãos
E com lágrimas me banha os olhos
Um tremor de insatisfação
Um desejo nunca alcançado
E que me afoga o coração

quinta-feira, novembro 04, 2010

Meu protesto e as palavras derramadas

De um lado ricos
Do outro pobres
Fronteira ilusória
Para seres iguais
Iguais na vida
Iguais no mundo
Igualmente efêmeros

Ante o universo
Morrem todos jovens
Porém passam os dias
A cultivar vaidades
A acumular riquezas falsas
Como economistas loucos
A acumular estrelas
Na vã esperança
de um dia possuí-las

Medíocres
Passam
Tão cedo passam
As estrelas ficam
A beleza fica
Fica a memória
Do que aqui fomos

Enquanto cá estou
Prefiro olhar a beleza
que cada rosto carrega
Prefiro olhar a riqueza
que cada história consagra

A você que não pensa assim
Não quero junto de mim
Não quero olhar o mundo
com as falsas lentes
que seu dinheiro comprou
Quero olhar para o outro
Como o humano que sou

(Palavras derramadas na tela, enquanto pensava sobre a ignorância de quem se julga melhor que o outro só porque pagou para estudar. Só porque se veste com panos caros, só porque pensa que pode comprar as estrelas. A estes, piedade.)

segunda-feira, agosto 30, 2010

Poesias envelhecidas

Encontrei hoje um livro antigo.
Li e revirei suas páginas amareladas.
Era um livro de poesias.
Relendo, percebi que cada verso cantava a minha vida,
meus dias e anos, que passados já não são meus.
Capítulos inteiros sobre situações e sentimentos,
que, embora abandonados pelo corpo,
ainda estão apreendidos de alguma forma em mim.
Talvez grafados na alma, se ela realmente existir.

Em um movimento lento e repleto de tortura,
as letras se soltaram do papel,
misturando-se às lágrimas que meus olhos derramavam.
Vi diante de mim um pequeno lago de tinta salgada de saudade.
Não uma saudade das coisas vividas,
mas uma saudade do que não aconteceu.
Dos amores perdidos,
dos amigos distantes

De repente, todo aquele passado
Parecia mais importante agora
do que quando foi experimentado.
O sentir da tristeza foi inevitável
ao perceber que meu pesar era
o de não ter sentido no momento certo.
De não ter percebido no momento presente
Um presente, que agora passado, me escapou das mãos

Desejei compor novos arranjos
Criar novos versos
Desta vez com a certeza da singularidade
de cada momento,
de cada pessoa que cruza ou fica em minha trajetória
Olhando o passado, percebi a leveza do presente
O sentir poético do Agora
O sentimento doce, alegre ou triste
que cada momento guarda
Escreverei novas poesias
E no fim terei um livro de saudades
verdadeiramente póstumas.
Mas só no fim. Quando ele vier.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Sobre metáforas e Fernando Pessoa (apropriações)


Pedras soltas no leito do rio

Pedras que seguem sem destino

Rio que corre para o mar

Águas que driblam obstáculos

Para enfim desaguar no mar

O mar fim do rio

O mar ponto final

É como o leito da morte

No mar o rio encontra o fim

A beleza do mar guarda o vale da morte

Á revelia dos obstáculos,

O rio vai sempre dar no mar


Passamos!


Sábio poeta, Fernando, já dizia

Mais vale saber passar sossegadamente

Você à revelia

Traz tormenta à calmaria

Das águas do leito, calmo leito, do meu rio

Atira pedras, agita,

Leva a calma e suavemente

Confunde as pedras, o rio, as águas

Com a fúria de uma tempestade


Cesse!

Passamos!

Suave siga o curso até encontro com o mar.







segunda-feira, junho 28, 2010

Um poema - uma gota de mim

"Se um poema foi escrito por um grande poeta ou não, isso só importa aos historiadores da Literatura. Suponhamos, só para argumentar, que eu tenha escrito um belo verso. Uma vez escrito esse verso não me serve mais porque, como já disse, esse verso me veio do Espírito Santo, do subconsciente ou, talvez, de algum outro escritor. Muitas vezes descubro que estou apenas citando algo que li tempos atrás, e isto se torna uma redescoberta. Melhor seria, talvez, que os poetas fossem anônimos."

Jorge Luis Borges

Sendo assim, ouso postar o meu poema. Um que integra um projeto maior, ainda embrionário, que em futuro breve (assim espero) poderei apresentar a todos.

Estranho estrangeiro

Estranho

Estrangeiro

Que um golpe ligeiro

De um destino certeiro

Roubou a alegria

Deixou a apatia

Da lembrança da pátria

Agora distante


Estranho

Estrangeiro

Lépido e arteiro que fora um dia

Agora experimenta a agonia

De ver escorrer entre os dedos

Os ideais de harmonia


A terra estranha, gelada e seca

Hostil lhe acolhe sem afagos

No peito acalenta a velha saudade

Da terra mãe e suas carícias


Estranho

Estrangeiro

Dos dias fagueiros

Sobraram breves lembranças

Saudades espaçadas

Choro, canções e pegadas

A serem guardadas

Junto com o desejo

De um dia voltar


Estranho

Estrangeiro

Vives agora

Da esperança de um dia

Viver o que agora é lembrança

Fazer o espelho lhe devolver

O já esquecido sorriso faceiro


Lillian Bento

segunda-feira, maio 31, 2010

Olhos e olhares perdidos

To sentindo falta de mim
Olho na cidade e não me vejo
Olho no espelho e não me encontro
Olhos estranhos me contemplam
Olhos distantes me observam
E eu desvio os olhos,
Fecho os olhos
E é neste momento que me vejo
Me vejo distante
Me vejo além
Me vejo inquieta
Me vejo triste
Me vejo alegre
Me vejo longe...
Longe desta imagem que agora contemplo no espelho.
Miro meu olhar que agora chora...
Continuo a me procurar

Lillian
(31.05.2010)

sábado, maio 29, 2010

"Meu cravo pessoal de defunto"

As árvores dos bosques, muros e paredes. Superfícies escolhidas pelos apaixonados para grafar nomes e declarar amores.

Por aí já vi coisas como:

João e Maria...
Ricardão, meu amorzão...
Rodriguinho, meu amorzinho...
Victor, sem você não vivo...
Rômulo e Tarcísio...
Juvêncio e Clementina...

E tantas outras declarações de amor que me lembram os versos de Carlos Drummond de Andrade:

"Amor-mais-que-perfeito. Minha urze. Meu cravo- pessoal-de-defunto. Minha corola sem cor e nome no chão de minha morte. "

Morte essa iminente a quase todos esses amores solidificados em superfícies tão efêmeras quanto algumas dessas histórias de amor. Estaria a Maria ainda apaixonada pelo João? O Ricardão seria ainda o amorzão da anônima que feriu a inocente árvore para bravar sua paixão?

Superfícies. Superficiais. Eternos e efêmeros...

Eu, eu prefiro não usar as superfícies. Até devo ter feito isso na adolescência em algum caderninho, mas confesso ter esquecido. Prefiro não registar versos baseados em um pseudo ideal de felicidade e frases feitas.

Acredito em um outro amor, um amor pouco romântico, menos melado e menos regado a ápices de alegria e picos de tristeza e sofrimento...

Como lembra Moska ...

"A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta? O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
O amor será sempre o desconhecido(...)"

Desconhecido e fluido. Muito além de muros, paredes e árvores! Muito além das fórmulas e de meladas declarações. Um amor de outro tipo...


terça-feira, maio 25, 2010

Antítese em metalinguagem

Em outubro próximo este blog faz 5 anos. Há alguns dias pensei em eliminá-lo, deixar para trás todo esse lirismo que o alimenta, mas agora percebo que isso é impossível. Impossível porque estou em cada linha aqui escrita, estou nesse layout já antigo que não consigo mudar e que traz um pouco do que preservo - o antigo, o que permanece diante da efemeridade da vida, o vintage.

Lembro que a decisão de criar este blog veio de um surto (quase psicótico), de uma revolta que já pulsava inquietante na minha alma desde muito antes de 2005. Assim, num impulso, como muitas coisas que faço na vida, passei a escrever o que sentia, o que me dava raiva e o que provocava alegrias. Me descobri ainda mais apaixonada pela escrita e comecei um ritual de só escrever aqui quando tivesse a alma invadida de sentimentos vibrantes. Seja de que ordem fosse, mas que fosse pulsante, que gritasse em mim. E assim, o fiz.

Por muito tempo sem divulgar, falar ou mostrar o que aqui escrevia. Ainda hoje não divulgo tanto, o que fez do blog um companheiro, quase um ouvinte de minhas quimeras. De tal maneira que agora, relendo textos antigos, posso ver mudanças, maturidade talvez, sentimentos antigos, alguns deixados para trás, outros transformados, mas nenhum esquecido.

Esta trajetória dá ainda mais sentido ao título do blog, aos versos de Fernando Pessoa - Flores que colho, ou deixo...

Vivo hoje um presente, sem esquecer o que aqui está registrado, preservando o usado, o velho, o antigo. Esse blog já está minha história, tanto que inicio a partir dele, um novo projeto, que espero em breve divulgar. Vamos ao futuro, sem perder de vista quem fomos no passado e sem acreditar que um dia saberemos quem de fato somos, tudo é trajetória, tudo é estrada na vida. Uma antítese sem fim e que torna interessante a vida.

quarta-feira, abril 28, 2010

Minha quimera de 2005

Lendo textos do princípio deste blog (2005) resolvi requentar a informação e publicar novamente um texto que escrevi sobre mim em novembro de 2005.

O que mudou em mim ou na minha percepção da vida?
Não sei... talvez a maturidade de texto, maturidade intelectual, alguma maturidade emocional (?).

Eu gosto desse texto! Apesar de ser uma verdadeira quimera! Segue:

TERÇA-FEIRA, NOVEMBRO 08, 2005

Li... Lilli....Lillian...Lillian Bento....

Um dia desses resolvi mudar, mas ainda assim fazia apenas uma parte muito pequena do que eu queria fazer...
Me libertei de uma tal vida vulgar... caí em outra...
Eu quero ir atrás da minha cobiça, mas o fedor da carniça sempre me fez resistir!
Agora olho pro futuro e o que enxergo me desespera... pra mudar parece longe, improvável
Às vezes, muitas vezes assumo a postura apocalíptica de que já era, porque no fundo eu particularmente duvido que algo destruído possa se restaurar... e muito já foi destruído!
Na contramão enxergo uma luz no fim do túnel... mas também não poderia ser diferente porque tenho no meu coração um ser que mora onde o amor faz divisa com a paixão, um oásis no sertão, meu tesouro tão sem fim... o que guardo de maior do melhor que há em mim...
Mas ainda assim falta algo: nada pra colher no jardim... esta não é a vida que eu sempre quis...
Por que?
Existem avanços profissionais, descobri que adoro a rotina de jornal diário, menos de um mês depois da conclusão da minha graduação: o primeiro emprego em jornal... gosto mas os bastidores ainda me assustam. Pra dizer a verdade desejo que sempre me assustem, porque à muita coisa o dia que me sentir indiferente estarei enquadrada, enquadrada em um sistema velado que resultam na pátria amada em que vivemos...
Puxa, que confusão de sentimentos! Desabafo... toquei diversos setores da minha vida, nada de solução... ainda não consigo vislumbrar nada que possa desviar meu navio do grande motim... penso que estou chegando a um ponto importante da vida: o de saber duvidar de tudo, criticar, ler o mundo e perceber em desespero que não existe muito sentido pras coisas... é não tem... tudo parece frágil...
O Poeta aconselhou: mais vale saber passar silenciosamente e sem desassossegos grandes!
Que merda... não consigo: eis meu maior problema...
Desassossego
Tempestades
Desesperos
Empolgação
Tristeza....
Ai, vivo muito em extremos... queria ser calma...rio sereno, saber aceitar o que não posso... Ah, queria nada! Pra dizer a verdade quero o que dizem que não posso, e vou atrás... quebro a cara... putz! E como quebrei na última coisa que quis e a vida disse não! Mas não me conformei... estou quieta, mas à procura da melhor estratégia pra driblar o que a vida ofereceu!
O fato de a vida ser minha e tantas vezes ir por caminhos diferentes do que quero me irrita, e por isso toda minha tristeza passa a ser raiva... que logo vira sei lá o que...
Na verdade, será que sou eu?
Acho que sim, na verdade eu que não sei se sou eu... mas outro dia tive um sonho... e nos sonhos percebo quem sou, e me surpreendo... sou ..... será que sou eu que bebo água ao invés de cerveja?
É assim mesmo, cansei de escrever... não tem conclusão e nem começo meio e fim, como minha vida...

domingo, abril 18, 2010

O que era impossível acaba de acontecer ...


Era impossível! Uma página que nunca seria virada. Era!
Mas passaram-se milhares de dias,
Milhões de horas e minutos...
Me perdi no passar do tempo!
E o que era impossível aconteceu!

Perceber isso me enche de alegria e tristeza ao mesmo tempo. É estranho que sentimentos tão distintos possam coexistir, mas eles estão aqui lado a lado. Talvez alegria por perceber que é bom superar algo que parecia tão difícil, mas uma tristeza por perceber que muita coisa passou. Não se ganha sem perder, mas também não se perde sem ganhar.

Muita coisa mudou! Consolida-se ainda mais a ideia de que o impossível não existe. Tudo que agora parece imutável, quero transpor e não preciso mais esperar cinco ou dez anos para virar uma página! Virou! Viraram? Virou!


terça-feira, março 30, 2010

Un sonido bajito

Em uma viagem ao Uruguai, encontrei em Montevideo os versos de Sofía Prokoffieva grafados em um papel. Por revelarem muito sobre o existir e o ser, os copio abaixo.

"Todo ser humano tiene en su interior, en su alma, un sonido bajito, su nota que es la singularidad de su ser, su esencia. Si el sonido de suas actos no coincide con esa nota, esa persona no puede ser feliz."

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Sobre o que é triste na alegria

Sentir falta é experimentar o valor das coisas
Agora sinto falta de coisas bobas
Das ruas de Goiânia
De bater perna nas feirinhas
De passear em Goiás Velho
De escrever todos os dias
Sinto falta de ouvir histórias
e depois transformar tudo em texto
Recontar o mundo a partir de outros olhares
De acordar tarde
E dormir mais tarde ainda
De querer me lançar no mundo...

Mas se sentir falta é pensar no valor das coisas
Paro também para perceber o valor do que agora me cerca
Há mais beleza à minha volta do que consigo enxergar
Tento abrir os olhos,
Mas enquanto não consigo brinco de poetizar.

26.01.10






sábado, janeiro 16, 2010

Mentes aprisionadas pelo preconceito

Ainda em meados de 2001, logo nos primeiros dias na faculdade fui surpreendida por mim mesma ao perceber o quanto um preconceito pode aprisionar a mente de uma pessoa. Estudava com um garoto de Luanda, na África, e um dia pedi para ver fotos da cidade dele. Nem faz tanto tempo assim, mas não havia Orkut, Facebook ou redes sociais para ver imagens na internet, então ele levou alguns registros impressos. Antes mesmo de ele tirar as fotos da bolsa, perguntei se veria elefantes e girafas atravessando a rua ou mesmo imagens de guerrilha. Para minha alegria eu estava errada. Vi um lugar bonito, moderno e até parecido com Brasília em alguns pontos. Minha atitude me lembrou o modo como o Brasil é visto por muitos estrangeiros e a velha tríade: mulher, carnaval e futebol.

Anos mais tarde, a minha paixão pela prática jornalística me fez ouvir e ver tantas outras pessoas falarem sobre lugares e situações desconhecidas, que aprendi a gostar de ouvir histórias, perguntar e saber mais o que o outro tem a oferecer de novo. Hoje sei que esse saber ouvir é essencial para viver em sociedade também e vejo que quem carrega e alimenta um preconceito aprisiona e priva a própria mente de ver o novo. Confesso que me incomoda quando ouço pessoas criticando outras, lugares ou atitudes a partir de uma visão dominada por preconceitos.

São pessoas que se privam de provar do novo, por puro medo de mexer no que está estabelecido. Ou simplesmente ignoram o aprendizado que o outro tem a oferecer. Tenho pensado muito sobre ética da alteridade e percebido que se esta fosse uma prática comum aos seres humanos haveria menos problemas na convivencia com o diferente. A alteridade está centrada no outro, no diferente e te leva a conhecer para então respeitar esse outro. Espero um dia conseguir viver plenamente a partir da alteridade e perceber ao redor pessoas que partilhem deste mesmo modo de perceber o mundo, o novo e o diferente. Espero libertar minha mente a cada dia mais no simples exercício de ouvir, entender e aprender com o outro.