quarta-feira, julho 06, 2011

Apropriações

"A cada traço seu desenho vai mudar
Novas cores na paleta vão surgir
E nesse espaço disponível pra pintar
Novos atores da sua tela vão partir
Deixando a imagem do passado em seu lugar
Em paralelo atravessando seu sentir

Pra que lado você pende?
Em que volta você está?
Tudo depende de qual figura você quer formar.

Não adianta tentar apagar com a borracha
Virar a página também não é solução
Quando uma reta em nosso desenho se encaixa
Fica pra sempre uma mancha, uma linha, um borrão"

Trecho da música Pêndulo de Paulinho Moska


sexta-feira, junho 17, 2011

Indagações fora de lógica



Será o fim surpreendente?
Algo diferente do que parece o lógico,
nesse roteiro surreal da vida?
Afinal, para que serve a lógica?

Insensatez
Estupidez humana!
Ela quer entender,
Sem saber que é impossível
entender o enredo de uma vida

A vida a gente sente
A gente pulsa
A gente experimenta

E se um dia eu,
Em minhas experimentações,
Fizer algo fora de lógica
não lamente, julgue ou se espante

Mesmo que eu pareça estar louca
Saiba: estarei feliz!
Feliz por romper com a lógica que limita as vidas
Pensar demais é sentir de menos

É a morte lenta em dias desertos.

Texto: Lillian Bento (17.06.11)
Foto: Ana Rita Vidica (2008 em Charazani/Bolívia)

domingo, maio 08, 2011

Um presente na distância


Há algum tempo eu quero escrever sobre você, mas todas as palavras que encontrei pareciam aquém do que eu queria dizer. Resolvi, assim, escrever neste dia ao menos um triz do que é meu amor por ti. Não é porque és minha mãe, mas de todas as mães que já encontrei pelo caminho, você é o exemplo que quero seguir em minha trajetória como mãe.

Contigo aprendi que amar é deixar o outro escolher, é aceitar e buscar compreender as "esquisitices" alheias, afinal todos nós temos algumas. Contigo estou aprendendo constantemente que a vida é êfemera demais para perdermos tempo com sentimentos ruins, para nos contaminarmos com raivas e mágoas. E, principalmente, estou aprendendo a me cercar de flores e abandonar os lixos que aparecem nos caminhos.

Por hora estou longe fisicamente de ti, mas és a primeira pessoa a saber sobre minhas decisões e incertezas. És a amiga a quem recorro primeiro para chorar e para rir. És a mulher que admiro por sua força ao enfrentar as adversidades da vida sem perder a serenidade e o brilho no olhar. Talvez por isso consiga sossegar meu coração sempre inquieto.

A cada minuto tenho certeza do amor que nos une, a cada dia vejo nos olhos da Maria a falta (física) que faz entre nós duas. Espero logo morar perto de ti novamente e partilhar dias e noites. Por agora, este é meu presente de dia das mães e o abraço apertado e saudoso virá nos próximos dias. Te amo.

Lilloca



quinta-feira, março 24, 2011

Poema sufocado

Nunca me calara antes
Há algum tempo precisei
Agora sei que calar sufoca
apara e apaga
Ação difícil
Para alguém feita de impulsos
E do gosto por pensar
Para quem leva
Disritmia no pulso
E ritmo no caminhar
Calar agora entristece
Encoleriza e adoece
Mas calar é o fardo que agora escolhi carregar
Mais por saber
que minhas palavras atrozes
Podem derrubar, chorar, matar
Então caminho
e minha mente enlouquece
o que minha boca sufoca
Se chegar perto ouvirás
Um suave balbuciar
E ao ouvir saberás
Quem de fato agora cala.

Lillian B.

Riminhas para 22 de março

Anos passados
Vida em curso
Euforias
Tristezas
Alegrias
Incertezas
Amor e apatia
Loucura com melancolia
Na fluir da trajetória
Sigo invetando minha história

Lillian em 22.03.11

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Saindo das bibliotecas para a Era Google














Talvez este lhe pareça mais um lamento saudosista dos muitos que existem por aí. Para mim é mesmo um lamento saudosista e de uma saudade da vida que levava antes de existirem tantas ferramentas tecnológicas. De um tempo em que fazer dever da escola levava mais tempo porque eu ia a biblioteca pública. E estar na biblioteca pública significava para mim um momento de concentração absoluta. Por todo lado eu via placas com avisos de silêncio e elas me intrigavam.

Havia ali um mistério e eu por vezes me pegava pensando em começar a gritar e sair correndo para ver o que acontecia. Para ver se o vigilante da biblioteca era bom mesmo. Mas nunca fiz isso, ao contrário, eu respeitava o silêncio e lia. Aos 13 anos comecei a ir sozinha à biblioteca e aquilo foi um acontecimento. Antes eu ia com minha mãe, mas depois podia passar as tardes de alguns dias da semana ali.

Li textos que aindam despertam em minha memória o sabor de mistério que havia naquela biblioteca - aquela, a biblioteca da Praça Cívica em Goiânia. Foi nesta idade que li "Eles não usam blackt-tie" do Gianfrancesco Guarnieri, "O Diário de Anne Frank", "Memórias Póstumas de Brás Cubas", descobri de verdade Cora Coralina e o escritor goiano Bernardo Élis. Tantos outros mais li, reli, descobri. Sentia prazer também em levar aqueles livros para casa, ler e depois voltar para buscar outros.

As pesquisas para a escola também me atraiam, principalmente sobre História e Literatura. Passava horas ali e me divertia ao aprender, mas me divertia principalmente com o desafio de querer saber mais. Afinal, quanto mais sabemos mais queremos buscar porque o sentimento de incompletude já começa a pulsar forte neste despertar para a leitura.

Hoje vejo minha filha fazer deveres escolares. E ai está o meu lamento. A dinâmica é outra. A própria escola recomenda a pesquisa na internet. Ótimo, não sou contra, mas o ambiente do aprendizado, aquele prazeroso que eu reconhecia na biblioteca desaparece. Não é preciso fazer silêncio e nem é possível se concentrar, afinal o "lugar" do aprendizado é também onde a criança joga (virtualmente porque ir pra rua nem pensar), onde "conversa" com os amigos nos bate-papos da vida online.

Há quem não concorde e defenda que a internet organizou o conhecimento, dinamizou a busca. Sim, ela fez isso, mas o preço foi a perda do apreço neste processo de aprender, pesquisar e descobrir. A busca se tornou fácil demais para dar prazer. Um clique e está ali, tudo a seu alcance, na tela à sua frente. Para que perder tempo em bibliotecas públicas, né?

Esta realidade só não me entristece mais porque sei que o prazer em aprender não está esquecido e posso ver brilhar (ainda) os olhos da minha filha ao pensar que livro vai escolher na biblioteca da escola. Ademais escrevo agora de um computador, posto aqui no blog porque estou online, então neste mundo de virtualidades é preciso saber aproveitar as benesses da tecnologia.

Sem esquecer, claro, os prazeres dos livros, das rodas de amigos, do cinema, do teatro, enfim, da vida real. Caso contrário, o que será de nós quando as máquinas dominarem de vez nossos corpos, quando substituirem ainda mais nossas mentes? Quandos os livros forem apenas reminiscências e as bibliotecas se tornarem museus? Não estarei aqui, mas se você estiver, lembre-se que foi este um tempo bom, de prazeres, descobertas e de mistérios.