domingo, novembro 25, 2007

Intervalo

No decorrer dos caminhos as decepções conosco e com as outras pessoas tornam-se tão corriqueiras a ponto de nos acostumarmos a driblar ou lidar com uma ou outra que nos incomoda. Mas, é comum também nos iludirmos e acreditarmos que com uma ou outra pessoa isso não irá ocorrer. É algo parecido com a idéia de morte: apesar da certeza de sua chegada não aceitamos que o hoje será o último dia e seguimos na (um dia falsa) certeza do amanhã. Decepcionei-me com você e te decepcionei também. Deixamos a peça de vidro cair no chão. Um sentimento puro e de alma, que (ainda acredito) livre da efemeridade da matéria sempre nos uniu. Mas, agora trincado e tornou-se aparentemente frágil. Tenho medo de mexer e quebrar de vez, ainda que minha vontade seja ir lá pegar e colar as partes. Deixar tudo no lugar novamente. E ver o mundo do alto do monte sereno das amizades verdadeiras em que sempre estivemos, ainda que com os fortes ventos uivantes. Estou ali a te esperar. (Lillian Bento)

domingo, novembro 11, 2007

Abrindo janelas e portas

Mais vale o meu pranto que esse canto em solidão
Nessa espera o mundo gira em linhas tortas
Abre essa janela, a primavera quer entrar
Pra fazer da nossa voz uma só nota

Só uma parte da letra (Los Hermanos) porque as portas só começaram a se abrir.Espero logo que a escuridão e o frio dêem lugar à luz quente do sol.

quinta-feira, novembro 08, 2007

A sedução dos gênios

Me encanta a genialidade dos poetas, que ao pensarem com o coração revelam inteligência para falar de irracionalidades do mundo dos sentimentos. A seguir uma pura demonstração da genial Clarice Lispector - com toda minha admiração:

Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...

(Clarice Lispector)
(agora leia também de baixo para cima)

quarta-feira, novembro 07, 2007

O Recado

Esse é para você que vem aqui procurar saídas infames, pinçar palavras para enfiar na minha boca. É para você imaginar o que me move e celebrar braços, abraços, palavras, silêncios, distâncias e desejos. E por falar em desejo, ah se seu pudesse controlá-lo: desejaria não desejar-te mais! Mas não posso e nem seria honesto comigo fazê-lo. Então eis os versos perfeitos:

A Alvorada do Amor

Um horror, grande e mudo, um silêncio profundo
No dia do Pecado amortalhava o mundo.
E Adão, vendo fechar-se a porta do Éden, vendo
Que Eva olhava o deserto e hesitava tremendo,
Disse: Chega-te a mim! entra no meu amor,
E e à minha carne entrega a tua carne em flor!
Preme contra o meu peito o teu seio agitado,
E aprende a amar o Amor, renovando o pecado!
Abençôo o teu crime, acolho o teu desgôsto,
Bebo-te, de uma em uma, as lágrimas do rosto!
Vê tudo nos repele! a tôda a criação
Sacode o mesmo horror e a mesma indignação...
A cólera de Deus torce as árvores, cresta
Como um tufão de fogo o seio da floresta,
Abre a terra em vulcões, encrespa a água dos rios;
As estrêlas estão cheias de calefrios;
Ruge soturno o mar; turva-se hediondo o céu...
Vamos! que importa Deus?
(...)
Sôbre a tua nudez a cabeleira! Vamos!
Arda em chamas o chão; rasguem-te a pele os ramos;
Morda-te o corpo o sol; injuriem-te os ninhos;
Surjam feras a uivar de todos os caminhos;
E, vendo-te a sangrar das urzes através,
Se amaranhem no chão as serpes aos teus pés...
Que importa? o Amor, botão apenas entreaberto,
Ilumina o degrêdo e perfuma o deserto! (...)

Olavo Bilac (Livro: Bilac Tempo e Poesia publicado em 1965)