domingo, outubro 28, 2007

Inquietação

É tanta inquietação que almejo o sossego.
Invejo a tranqüilidade e os corações serenos.
O meu segue galopando no escuro.
Em batidas aceleradas das angustiantes incertezas.
Desejo a calmaria, mas vivo em tempestades.
E quanto mais desejo serenidade,
mais a angústia sufocante se instala.

Decidi parar de desejar.
Conheci o angustiante desejo de parar de desejar.
Quanto mais desejo não desejar,
mas o desejo teima em chegar
E quando tento silenciar sufoco o meu grito,
que incontido ganha o ar.

Lillian Bento - No limiar entre o silêncio e o grito

terça-feira, outubro 16, 2007

As roupas que não uso mais

Outro dia, um domingo desses, tentei vestir uma saia antiga, das que eu usava na época da faculdade - de retalhos, artesanal e com tecido cru. Completei com uma sandália de couro - também feita à mão e uma bata de tecido. Estava me preparando para trabalhar e, como costumo ir com roupas mais informais aos domingos para o jornal, pensei que esta seria uma vestimenta perfeita. Mas não. Parei diante do espelho e percebi que aquela não era mais eu. Eu me olhava, a imagem se mexia conforme eu me movia, mas não era eu.

Que pena, pensei! Eu gostava de mim daquele jeito. Do que vivi sendo a Lillian de longos cabelos trançados, sandálias de couro e batas artesanais. Mas não dava mais. Me senti meio estranha e não ficaria à vontade como antes. Tirei. Foi melhor. Vesti uma calça jeans, uma blusinha pequena - ao contrário das largas batas de antes - e uma sandália com um leve salto, o que antes seria imposssível. Saí. Agora parecia ser eu.

Só fiquei triste porque as mudanças no visual pareciam refletir transformações na alma. Gostava da menininha de antes, rebelde e sem grandes compromissos. Mas agora parecia não caber mais. Me sinto mulher, adulta, cheia de frustrações e compromissos. Olhei e minhas unhas estavam grandes e pintadas de vermelho. Deixei de resistir. Eu era outra, definitivamente!

Apesar de guardar em minh'alma a garota de antes, não a alimentava mais e nem podia. Ainda deixo ela gritar muitas vezes, dando lugar a um revezamento entre a garotinha e a mulher, ainda em fase de construção. E espero que a menininha não morra e, de vez em quando, vou tentar usar as roupas de antes. Quem sabe um dia deixe de ser estranho. Se for, as guardarei como guardo as doces, picantes, gostosas e saudosas lembranças dos tempos idos.

terça-feira, outubro 02, 2007

Não havia nada lá

A letra é do Moska, mas como sempre, é perfeita para mim...

Quem te levou?
Quem apagou a sua imagem do ar?
O que te fez mudar de vez a casa de lugar?
Eu procurei as flores que plantei
E não havia nada lá

Quando chegou
Até pensei que era pra ficar
E quando se foi
Eu juro que achei que iria voltar
Mas quando abri a caixa descobri:
Não havia nada lá

Não havia mais um dia perfeito
Não havia mais com que se enganar
Ventania no nosso deserto particular
Não havia mais maneira ou jeito
De fazer tudo se modificar
O futuro terminou antes de começar

Mas tudo bem
A gente tem mesmo é que se libertar
De ficar com alguém
Fazendo planos pro dia que ainda vai chegar
Pois me procurei dentro de ti
E não havia nada lá