quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Saindo das bibliotecas para a Era Google














Talvez este lhe pareça mais um lamento saudosista dos muitos que existem por aí. Para mim é mesmo um lamento saudosista e de uma saudade da vida que levava antes de existirem tantas ferramentas tecnológicas. De um tempo em que fazer dever da escola levava mais tempo porque eu ia a biblioteca pública. E estar na biblioteca pública significava para mim um momento de concentração absoluta. Por todo lado eu via placas com avisos de silêncio e elas me intrigavam.

Havia ali um mistério e eu por vezes me pegava pensando em começar a gritar e sair correndo para ver o que acontecia. Para ver se o vigilante da biblioteca era bom mesmo. Mas nunca fiz isso, ao contrário, eu respeitava o silêncio e lia. Aos 13 anos comecei a ir sozinha à biblioteca e aquilo foi um acontecimento. Antes eu ia com minha mãe, mas depois podia passar as tardes de alguns dias da semana ali.

Li textos que aindam despertam em minha memória o sabor de mistério que havia naquela biblioteca - aquela, a biblioteca da Praça Cívica em Goiânia. Foi nesta idade que li "Eles não usam blackt-tie" do Gianfrancesco Guarnieri, "O Diário de Anne Frank", "Memórias Póstumas de Brás Cubas", descobri de verdade Cora Coralina e o escritor goiano Bernardo Élis. Tantos outros mais li, reli, descobri. Sentia prazer também em levar aqueles livros para casa, ler e depois voltar para buscar outros.

As pesquisas para a escola também me atraiam, principalmente sobre História e Literatura. Passava horas ali e me divertia ao aprender, mas me divertia principalmente com o desafio de querer saber mais. Afinal, quanto mais sabemos mais queremos buscar porque o sentimento de incompletude já começa a pulsar forte neste despertar para a leitura.

Hoje vejo minha filha fazer deveres escolares. E ai está o meu lamento. A dinâmica é outra. A própria escola recomenda a pesquisa na internet. Ótimo, não sou contra, mas o ambiente do aprendizado, aquele prazeroso que eu reconhecia na biblioteca desaparece. Não é preciso fazer silêncio e nem é possível se concentrar, afinal o "lugar" do aprendizado é também onde a criança joga (virtualmente porque ir pra rua nem pensar), onde "conversa" com os amigos nos bate-papos da vida online.

Há quem não concorde e defenda que a internet organizou o conhecimento, dinamizou a busca. Sim, ela fez isso, mas o preço foi a perda do apreço neste processo de aprender, pesquisar e descobrir. A busca se tornou fácil demais para dar prazer. Um clique e está ali, tudo a seu alcance, na tela à sua frente. Para que perder tempo em bibliotecas públicas, né?

Esta realidade só não me entristece mais porque sei que o prazer em aprender não está esquecido e posso ver brilhar (ainda) os olhos da minha filha ao pensar que livro vai escolher na biblioteca da escola. Ademais escrevo agora de um computador, posto aqui no blog porque estou online, então neste mundo de virtualidades é preciso saber aproveitar as benesses da tecnologia.

Sem esquecer, claro, os prazeres dos livros, das rodas de amigos, do cinema, do teatro, enfim, da vida real. Caso contrário, o que será de nós quando as máquinas dominarem de vez nossos corpos, quando substituirem ainda mais nossas mentes? Quandos os livros forem apenas reminiscências e as bibliotecas se tornarem museus? Não estarei aqui, mas se você estiver, lembre-se que foi este um tempo bom, de prazeres, descobertas e de mistérios.

5 comentários:

Um brasileiro disse...

Oi moça. Estive por aqui. Muito legal mesmo. Gostei. Você expos bem. Também senti esse descaso com as bibliotecas. Apareça por lá. Abraços.

Unknown disse...

I certainly agree to this post of yours, many of the youngster today are relying most of the time in the use of Internet in terms of research and homework, also for us adults it saves us a lot of time... but like you said we should not forget the norms when library are being widely used.



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Aninha Ruiz - minhafilosofia.com disse...

Também tive ótimos momentos de descobertas em bibliotecas públicas...

Me identifiquei com o texto. Será que nossos filhos terão essa oportunidade? Tenho minhas dúvidas...

Beijo.

Aninha Ruiz

Daniel disse...

Oi, Lilian
Sempre fui um rato de bibliotecas, livrarias e sebos. Teu texto expressa bem uma certa melancolia que sinto quando vejo a filha mais velha fazendo seus trabalhos escolares em meia hora de pesquisa no Google, Ctrl C, Ctrl V & Print. Mas também sinto uma pontada de esperança quando a mais nova senta num canto, com um livro aberto, folheando e conversando sozinha sobre o que está "lendo". Acho que nós ainda vamos ver os livros como são, mas os netos ou bisnetos, sei não...

Lillian Bento disse...

É Daniel, a esperança eu também tenho e tento sempre mostrar a minha filha o valor dos livros! abraços e obrigada por acompanhar o blog. =)