sábado, março 07, 2020

Daquele olhar que se derrama


Havia um brilho quase ausente naquele olhar opaco
Como um óculos de lentes embaçadas
a cobrir o verdadeiro olhar daquele homem

Essa opacidade parecia o proteger
Afinal, o brilho do olhar nos expõe em demasia
Revela nossos desejos e medos mais profundos
Nos coloca no cerne da vulnerabilidade

Deitado naquela cama, ele me olhava atravessado
E me atravessava com o olhar arredio e inquieto
Dizia querer ficar, mas seu olhar entregava o contrário

O desejo era ter ao longe dali
Porque despir-se seria demais
E olhar profundamente é despir-se

Fumou um ou dois cigarros e partiu
Despediu-se com um olhar flutuante
Atrás das lentes embaçadas vi um brilho guardado
Aqueles olhos escuros eram como represas de desejos e segredos

Desejei ardentemente alcançá-los, mas recuei.
Guardei na memória
Como a fotografia em branco e preto de um oceano revolto.
Atiçou em mim uma curiosidade que se move igual Corisco. 

(Salvador. Bahia. 07 de março. 2020)






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